Atenção: isto não é (apenas) um curso de literatura. Nesta série de estudos irá privilegiar-se a exploração das circunstâncias históricas nas quais são criadas as obras literárias, tratadas como a intersecção entre, por um lado, o espaço de oportunidades e constrangimentos da cidade do Porto, onde os lugares de sociabilidade (cafés, colóquios e tertúlias, coletividades, etc.) e as práticas de criação intelectual (suplementos e revistas literárias, coleções, apresentações de livros), que eram característicos dos anos 50, estavam circunscritos pelos mecanismos estatais de controlo e censura vigentes e pelas limitações sociais de acesso e consumo de bens culturais (e.g. iliteracia) e, por outro lado, os trajetos singulares dos escritores que, unidos entre eles por relações de cooperação, emulação e competição em torno aos valores literários, tinham recursos, interesses e capacidades variadas em termos sociais, económicos e culturais. De acordo com este ponto de vista, foram selecionadas sete obras e sete autores que, sem visarem encontrar-se com as versões do «cânone» literário entretanto constituído, visam servir primeiramente como pontos de observação sócio-histórica sobre os mecanismos e processos da criação e consagração literárias, ou, a outra escala, como pretextos para a prospeção do universo cultural português coetâneo. Os exercícios de reconstrução do universo cultural portuense dos anos 50, realizados ao longo da série de colóquios que vos propomos, vão investigar um extenso conjunto de materiais contemporâneos a essa época, que compreendem, para lá das obras literárias propriamente ditas, documentos institucionais e particulares (arquivos policiais, correspondência pessoal, recortes de jornal, registos oficiais, etc.), testemunhos pessoais (entrevistas, livros de memórias, etc.) e registos em filme.
7 Sessões -- Inscrição até 30 de Outubro
7 sessões
Sessão 1. Joaquim Teixeira de Pascoaes e «Dois jornalistas» (1951)
Sessão 2. Agustina Bessa-Luís e «Contos impopulares» (1951-53)
Sessão 3. António Reis e «Poemas do escritório» (1951)
Sessão 4. Antero de Figueiredo e «Traição à arte» (1952)
Sessão 5. Alberto de Serpa e «Os versos secretos» (1981, originais de 1958)
Sessão 6. Óscar Lopes e «As mãos e o espírito» (1958)
Sessão 7. Papiniano Carlos e «Rosa nocturna» (1961)